"David, cara, nós precisamos conversar."
Quando eu cheguei, imediatamente notei algo estranho sobre a casa. Você
já viu ou leu algo que não deveria te assustar, mas por alguma razão te
gelava a espinha? Eu andei através da construção e o o sentimento de mal
estar apenas aumentou quando eu abri a porta da frente.
Meu coração desacelerou e soltei um suspiro aliviado assim que entrei. O
cômodo parecia como uma entrada de um hotel normal decorada para o
Halloween. Um sinal foi colocado no lugar onde deveria ter um
funcionário. Se lia "Quarto 1 por aqui. Mais oito a seguir. Alcance o
final e você vence!" Eu ri e fui para a primeira porta.
A primeira área era quase cômica. A decoração lembrava o corredor de
Halloween de um K-Mart, cheia de fantasmas de lençol e zumbis robóticos
que soltavam um grunhido estático quando você passava. No outro lado
tinha uma saída, a única porta além da qual eu entrei. Passei através
das falsas teias de aranha e fui para o segundo quarto.
Fui recebido por uma névoa assim que abri a porta do segundo quarto. O quarto definitivamente apostou alto nos termos de tecnologia. Não havia apenas uma máquina de fumaça, mas morcegos pendurados pelo teto e girando em círculos. Assustador. Eles pareciam ter em algum lugar da sala, uma trilha sonora em loop de Halloween que qualquer um encontra em uma loja de R$1,99. Eu não vi um rádio, mas imaginei que eles tenham usado um sistema de PA. Eu pisei em cima de alguns ratos de brinquedo com rodinhas e andei com o peito inchado para a próxima área. Eu alcancei a maçaneta e meu coração parou. Eu não queria abrir essa porta. O sentimento de medo bateu tão forte que eu mal conseguia pensar. A lógica voltou depois de alguns momentos aterrorizantes, e eu abri a porta e entrei no próximo cômodo.
No quarto 3 foi quando as coisas começaram a mudar.
A primeira vista, parecia como um quarto normal. Havia uma cadeira no
meio do quarto com piso de madeira. Uma lâmpada no canto fazia o péssimo
trabalho de iluminar a área, e lançava algumas sombras sobre o chão e
as paredes. Esse era o problema. Sombras. Plural. Com a exceção da
cadeira, havia outras. Eu mal tinha entrado e já estava apavorado. Foi
naquele momento que eu soube que algo não estava certo. Eu nem sequer
pensava quando automaticamente tentei abrir a porta de qual eu vim.
Estava trancada pelo outro lado.
Isso me deixou atormentado. Alguém estava trancando as portas conforme
eu progredia? Não havia como. Eu teria ouvido. Seria uma trava mecânica
que fechava automaticamente? Talvez. Mas eu estava muito assustado pra
pensar. Eu me voltei para o quarto e as sombras tinham sumido. A sombra
da cadeira permaneceu, mas as outras se foram. Comecei a andar
lentamente. Eu costumava alucinar quando era criança, então eu conclui
que as sombras eram um produto da minha imaginação. Comecei a me sentir
melhor assim que fui para o meio da sala. Olhei para baixo enquanto
andava, e foi aí que eu vi. A minha sombra não estava lá. Eu não tive
tempo para gritar. Corri o mais rápido que pude para a outra porta e me
atirei sem pensar no próximo quarto.
O quarto cômodo foi possivelmente o mais perturbador. Assim que eu
fechei a porta, toda a luz pareceu ser sugada para fora e colocada no
quarto anterior. Eu fiquei ali, rodeado pela escuridão, e não conseguia
me mexer. Não tenho medo do escuro, e nunca tive, mas eu estava
absolutamente aterrorizado. Toda a minha visão tinha me deixado. Eu
ergui minha mão na frente do meu rosto e se eu não soubesse que tinha
feito isso, nunca seria capaz de contar. Não conseguia ouvir nada.
Estava um silêncio mortal. Quando você está em uma sala à prova de som,
ainda é capaz de se ouvir respirar. Você consegue ouvir a si mesmo estar
vivo. Eu não podia. Comecei a tropeçar depois de alguns momentos, a
única coisa que eu podia sentir era meu coração batendo rapidamente. Não
havia nenhuma porta à vista. Eu não tinha nem sequer certeza se havia
uma porta mesmo. O silêncio foi quebrado por um zumbido baixo.
Senti algo atrás de mim. Vire-me bruscamente mas mal conseguia ver meu
nariz. Mas eu sabia que era lá. Independentemente do quão escuro estava,
eu sabia que tinha algo lá. O zumbido ficou mais alto, mais perto.
Parecia me cercar, mas eu sabia que o que quer que estivesse causando o
barulho, estava na minha frente, se aproximando. Dei um passo para trás,
eu nunca tinha sentido esse tipo de medo. Eu realmente não consigo
descrever o verdadeiro medo. Não estava nem com medo de morrer, mas sim
do modo que isso ia acontecer. Tinha medo do que a coisa reservara para
mim. Então as luzes piscaram por menos de um segundo e eu vi. Nada. Eu
não vi nada e eu sei que eu não vi nada lá. O quarto estava novamente
mergulhado na escuridão, e o zumbido era agora um guincho selvagem. Eu
gritei em protesto, não conseguiria ouvir o barulho por mais um maldito
minuto. Eu corri para trás, longe do barulho, e comecei a procurar pela
maçaneta. Me virei e cai dentro do quarto 5.
Antes que eu descreva o quarto 5, você deve entender algo. Eu não sou um
viciado. Nunca tive história de abuso de drogas ou qualquer tipo de
psicoses além das alucinações na minha infância que eu já mencionei, e
elas eram apenas quando eu estava realmente cansado ou tinha acabado de
acordar. Eu entrei na Casa sem Fim limpo.
Depois de cair do quarto anterior, minha visão do quinto quarto foi de
costas, olhando pro teto. O que eu vi não me assustou, apenas me
surpreendeu. Árvores tinha crescido no quarto e se erguiam acima da
minha cabeça. O teto desse quarto era mais alto que os outros, o que me
fez pensar que eu estava no centro da casa. Me levantei do chão, me
limpei e olhei ao redor. Era definitivamente o maior quarto de todos. Eu
sequer conseguia ver a porta de onde eu estava, os vários arbustos e
árvores devem ter bloqueado a minha linha de visão da saída. Nesse
momento eu notei que os quartos estavam ficando mais assustadores, mas
esse era um paraíso em comparação ao último. Também assumi que o que
estava no quarto quatro ficou lá. Eu estava incrivelmente errado.
Conforme eu andava, comecei a ouvir o que se poderia ouvir em uma
floresta, o barulho dos insetos se movendo e dos pássaros voando
pareciam ser as minhas únicas companhias nesse quarto. Isso foi o que
mais me incomodou. Eu podia ouvir os insetos e os outros animais, mas
não conseguia vê-los. Comecei a me perguntar quão grande essa casa era.
De fora, quando eu caminhei até ela, parecia como uma casa normal. Era
definitivamente na maior parte da casa, já que tinha quase uma floresta
inteira. A abóbada cobria minha visão do teto, mas eu assumi que ele
ainda estava lá, por mais alto que fosse. Eu também não via nenhuma
parede. A única maneira que eu sabia que ainda estava dentro da casa era
por causa do chão compatível com o dos outros quartos, pisos escuros de
madeira. Continuei andando na esperança que a próxima árvore que eu
passasse revelaria a porta. Depois de alguns momento de caminhada, senti
um mosquito no meu braço. O espantei e continuei. Um segundo depois,
senti cerca de dez mais deles em diferentes lugares da minha pele. Senti
eles rastejarem para cima e para baixo nos meus braços e pernas, e
algum deles foram para o meu rosto. Eu me agitava freneticamente para
espantá-los mas eles continuavam rastejando. Eu olhei para baixo e
soltei um grito abafado, mais um ganido, para ser honesto. Eu não vi um
único inseto. Nenhum inseto estava em mim, mas eu conseguia senti-los.
Eu ouvia eles voando pelo meu rosto e picando a minha pele, mas não
conseguia ver um único inseto. Me joguei no chão e comecei a rolar
descontroladamente. Eu estava desesperado. Eu odiava insetos,
especialmente os que eu não conseguia ver ou tocar. Mas eles conseguiam
me tocar, e estavam por toda parte.
Eu comecei a rastejar. Não tinha ideia para onde estava indo, a entrada
não estava a vista, e eu ainda não tinha visto a saída. Então eu apenas
rastejei, minha pele se contorcendo com a presença desses insetos
fantasmas. Depois do que pareceu horas, eu achei a porta. Agarrei a
árvore mais próxima e me apoiei nela, eu dava tapas nos meus braços e
pernas, sem sucesso. Tentei correr mas não conseguia, meu corpo estava
exausto de rastejar e lidar com o que quer que estivesse no meu corpo.
Eu dei alguns passos vacilantes até a porta, me segurando em cada árvore
para me apoiar. Estava a poucos passos da porta quando eu ouvi. O
zumbido baixo de antes. Estava vindo do próximo quarto, e era mais
profundo. Eu podia quase senti-lo dentro do meu corpo, como quando você
está do lado de um amplificador em um show. O sensação dos insetos em
mim diminuiu quando o zumbido ficou mais alto. Assim que eu coloquei a
mão na maçaneta, os insetos se foram completamente, mas eu não conseguia
girar a maçaneta. Eu sabia que se eu soltasse, os insetos voltariam, e
eu não voltaria para o cômodo quatro. Eu apenas fiquei ali, minha cabeça
pressionada contra a porta marcada 6, minha mão trêmula segurando a
maçaneta. O zumbido era tão alto que eu não conseguia nem me ouvir
fingir pensar. Eu não podia fazer nada além de prosseguir. O quarto 6
era o próximo, e ele era o inferno.
Fechei a porta atrás de mim, meus olhos fechados e meus ouvidos zunindo.
O zumbido me rodeava. Assim que a porta fechou, o zumbido se foi. Abri
meus olhos e a porta que eu fechei sumira. Era apenas uma parede agora.
Olhei em volta em choque. O quarto era idêntico ao terceiro, a mesma
cadeira e lâmpada, mas com a quantidade de sombras corretas dessa vez. A
única real diferença é que a porta de saída, e a que eu vim, tinham
sumido. Como eu disse antes, eu não tinha problemas anteriores nos
termos de instabilidade mental, mas no momento eu sentia como se
estivesse louco. Eu não gritei. Não fiz um som. No começo eu arranhei
suavemente. A parede era resistente, mas eu sabia que a porta estava lá,
em algum lugar. Eu apenas sabia que estava. Arranhei onde a maçaneta
estava. Arranhei a parede freneticamente com ambas as mãos, minhas unhas
começaram a ser lixadas pela parede. Cai silenciosamente de joelho, o
único som no quarto era o incessante arranhar contra a parede. Eu sabia
que estava lá. A porta estava lá, eu sabia que estava apenas lá, sabia
que se eu pudesse passar pela parede-
"Você está bem?"
Pulei do chão e me virei rapidamente. Me encostei contra a parede atrás
de mim e vi o que falou comigo, e até hoje eu me arrependo de ter me
virado.
A garotinha usava um vestido branco que descia até seus tornozelos. Ela
tinha longos cabelos loiros que desciam até o meio das suas costas, pele
branca e olhos azuis. Ela era a coisa mais assustadora que eu já tinha
visto, e eu sei que nada na vida será tão angustiante como o que eu vi
nela. Enquanto eu a olhava, eu via a jovem menina, mas também via algo
mais. Onde ela estava eu vi o que parecia com um corpo de um homem maior
do que o normal e coberto de pelos. Ele estava nu da cabeça ao dedão do
pé, mas sua cabeça não era humana, e seus pés eram cascos. Não era o
diabo, mas naquele momento poderia muito bem ter sido. Sua cabeça era a
cabeça de um carneiro e o focinho de um lobo. Era horrível, e era como a
menininha a minha frente. Eles tinham a mesma forma. Eu não consigo
realmente descrever, mas eu via os dois ao mesmo tempo. Eles
compartilhavam o mesmo lugar do quarto, mas era como olhar para duas
dimensões separadas. Quando eu olhava a menina, eu via a coisa, e quando
eu olhava a coisa, eu via a menina. Eu não conseguia falar. Eu mal
conseguia ver. Minha mente estava se revoltando contra o que eu tentava
processar. Eu já tive medo antes na minha vida, e eu nunca tinha estado
mais assutado do que quando fiquei preso no quarto 4, mas isso foi antes
do sexto. Eu apenas fiquei ali, olhando para o que quer que fosse que
falou comigo. Não havia saída. Eu estava preso lá com aquilo. E então
ela falou de novo.
"David, você deveria ter ouvido"
Quando aquilo falou, eu ouvi palavras da menina, mas a outra coisa falou
atrás da minha mente numa voz que eu não tentarei descrever. Não havia
nenhum outro som. A voz apenas continuava repetindo a frase de novo e de
novo na minha mente, e eu concordei. Eu não sabia o que fazer. Estava
ficando louco e ainda assim eu não conseguia tirar os olhos do que
estava na minha frente. Cai no chão. Pensei que tinha desmaiado, mas o
quarto não deixaria isso acontecer. Eu apenas queria que isso
terminasse. Eu estava de lado, meus olhos bem apertos e a coisa olhando
pra mim. No chão na minha frente estava correndo um dos ratos de
brinquedo do segundo quarto. A casa estava brincando comigo. Mas por
alguma razão, ver esse rato fez a minha mente voltar de onde quer que
ela estivesse, e olhar ao redor do quarto. Eu sairia de lá. Estava
determinado a sair daquela casa e nunca mais pensar sobre ela novamente.
Eu sabia que esse quarto era o inferno e não estava pronto para ficar
lá. No começo apenas meus olhos se moviam. Eu procurava nas paredes por
qualquer tipo de abertura. O quarto não era muito grande, então não
demorou muito para que eu checasse tudo. O demônio continuava zombando
de mim, a voz cada vez mais alta como a coisa parada lá. Coloquei minha
mão no chão e fiquei de quatro, e voltei a explorar a parede atrás de
mim. Então eu vi algo que eu não podia acreditar. A coisa estava agora
diretamente nas minhas costas, sussurrando como eu não deveria ter
vindo. Eu senti sua respiração na minha nuca, mas me recusei a me virar.
Um grande retângulo foi riscado na madeira, com um pequeno entalhe no
meio dele. E bem em frente aos meus olhos eu vi um 7 que eu tinha
inconscientemente feito na parede. Eu sabia o que era. Quarto 7 estava
bem onde o quarto 5 estava a momentos atrás.
Eu não sabia como eu tinha feito aquilo, talvez tenha sido apenas o meu
estado no momento, mas eu tinha criado a porta. Eu sabia que tinha. Na
minha loucura eu tinha riscado na parede o que eu mais precisava, uma
saída para o próximo quarto. O quarto 7 estava perto. Eu sabia que o
demônio estava bem atrás de mim, mas por alguma razão, ele não conseguia
me tocar. Fechei meus olhos e coloquei ambas as mãos no grande 7 na
minha frente. E empurrei. Empurrei o mais forte que pude. O demônio
agora gritava nos meus ouvidos. Ele e dizia que eu nunca iria embora. Me
dizia que esse era o fim, mas que eu não iria morrer, eu iria ficar lá
no quarto 6 com ele. Eu não iria. Empurrei e gritei com todo o meu
fôlego. Eu sabia que alguma hora eu iria atravessar a parede. Cerrei
meus olhos e gritei, e então o demônio se foi. Eu fui deixado no
silêncio. Me virei lentamente e fui saudado com o quarto estando como
estava quando eu entrei, apenas uma cadeira e uma lâmpada. Eu não podia
acreditar nisso, mas não tive tempo de me habituar. Me virei para o 7 e
pulei levemente para trás. O que eu vi foi uma porta. Não a que eu tinha
riscado lá, mas uma porta normal com um grande 7 nela. Todo o meu corpo
tremia. Me levou um tempo para girar a maçaneta. Eu apenas fiquei lá,
parado por um tempo, encarando a porta. Eu não podia ficar no quarto 6,
não podia. Mas se isso foi apenas o quarto 6, não conseguia imaginar o
que me aguardava no 7. Devo ter ficado lá por uma hora, apenas olhando
para o 7. Finalmente, respirei fundo e girei a maçaneta, abrindo a porta
para o quarto 7.
Cambaleei através da porta mentalmente exausto e fisicamente fraco. A
porta atrás de mim se fechou, e eu me toquei de onde estava. Eu estava
fora. Não fora como no quarto 5, eu estava realmente lá fora. Meus olhos
ardiam. Eu queria chorar. Cai de joelhos e tentei, mas não consegui. Eu
estava finalmente fora daquele inferno. Nem sequer me importava com o
prêmio que foi prometido. Me virei e vi que porta que eu tinha acabado
de atravessar era a entrada. Andei até o meu carro e dirigi para casa,
pensando em o quão bom seria tomar um banho.
Assim que cheguei em casa, me senti desconfortável. A alegria de deixar a
Casa Sem Fim tinha sumido, e um temor crescia lentamente em meu
estômago. Parei de pensar nisso e fiz meu caminho para a porta da
frente. Entrei e imediatamente subi para o meu quarto. Eu entrei lá e na
minha cama estava meu gato Baskerville. Ele foi a primeira coisa viva
que eu vi aquela noite, e fui fazer carinho nele. Ele sibilou e bateu na
minha mão. Recuei em choque, ele nunca tinha agido assim. Eu pensei
"tanto faz, ele é um gato velho". Fui para o banho e me aprontei para o
que eu esperava ser uma noite de insônia.
Depois do meu banho, fui cozinhar algo. Desci as escadas e me virei para
a sala de estar, e vi o que ficaria para sempre gravado em minha mente.
Meus pais estavam deitados no chão, nus e cobertos de sangue. Foram
mutilado ao ponto de estarem quase identificáveis. Seus membros foram
removidos e colocados do lado dos seus corpos, e suas cabeças em seus
peitos, olhando para mim. A pior parte eram suas expressões. Eles
sorriam, como se estivessem felizes em me ver. Vomitei e comecei a
chorar lá mesmo. Eu não sabia o que tinha acontecido, eles nem sequer
moravam comigo. Eu estava confuso. E então eu vi. Uma porta que nunca
esteve lá antes. Uma porta com um grande 8 riscado com sangue nela.
Eu continuava na casa. Estava na minha sala de estar, mas ainda assim,
no quarto 7. O rosto dos meus pais sorriram mais assim que eu percebi
isso. Eles não eram meus pais, não podiam ser. Mas pareciam exatamente
como eles. A porta marcada com um 8 estava do outro lado, depois dos
corpos mutilados na minha frente. Eu sabia que tinha que continuar, mas
naquele momento eu desisti. Os rostos sorridentes acabaram comigo, me
seguravam lá onde eu estava. Vomitei novamente e quase entrei em
colapso. E então, o zumbido voltou. Estava mais alto do que nunca,
enchia a casa e tremia as paredes. O zumbido me obrigou a andar. Comecei
a andar lentamente, indo em direção a porta e aos corpos. Eu mal
conseguia ficar em pé, ainda mais andar, e quanto mais perto eu ia dos
meus pais, mais perto do suicídio eu estava. As paredes agora tremiam
tanto que parecia que desmoronariam, mas ainda assim os rostos sorriam
para mim. Cada vez que eu me movia, os olhos me seguiam. Agora eu estava
entre os dois corpos, a alguns metros da porta. As mãos desmembradas
rastejaram em minha direção, o tempo todo os rostos continuavam a me
olhar fixamente. Um novo terror tomou conta de mim e eu andei mais
rápido. Eu não queria ouvir eles falarem. Não queria que as vozes fossem
iguais a dos meus pais. Eles começaram a abrir suas bocas, e agora as
mãos estavam a centímetros dos meus pés. Em um movimento desesperado,
corri até a porta, a abri, e bati com ela atrás de mim. Quarto 8.
Eu estava farto. Depois do que acabara de acontecer, eu sabia que não
tinha mais nada que essa porra de casa pudesse ter que eu não pudesse
sobreviver. Não havia nada além do fogo do inferno que eu não estava
preparado. Infelizmente eu subestimei as capacidades da Casa Sem Fim.
Infelizmente, as coisas ficaram mais perturbadoras, mais terríveis e
mais indescritíveis no quarto 8.
Eu continuo tendo dificuldade me acreditar no que eu vi na sala 8. De
novo, o quarto era uma cópia do quarto 6 e 4, mas sentado na cadeira
normalmente vazia, estava um homem. Depois de alguns segundos de
descrença, minha mente finalmente aceitou o fato de que o homem sentado
lá era eu. Não alguém que parecia comigo, ele era David Williams. Me
aproximei. Eu tinha que dar uma olhada melhor, mesmo tendo certeza
disso. Ele olhou para mim e notei lágrimas em seus olhos.
"Por favor.... por favor, não faça isso. Por favor, não me machuque."
"O que?" Eu disse. "Quem é você? Eu não vou te machucar."
"Sim, você vai" Ele soluçava agora. "Você vai me machucar e eu não quero
que você faça isso." Ele colocou suas pernas para cima na cadeira e
começou a se balançar para frente e para trás. Foi realmente bem
patético de olhar, principalmente por ele ser eu, idêntico em todos os
sentidos.
"Escute, quem é você?" Eu estava agora apenas a alguns metros do meu
doppelganger. Foi a mais estranha experiência que eu tive, estar lá
falando comigo mesmo. Eu não estava assustado, mas ficaria logo. "Por
que você-?"
"Você vai me machucar, você vai me machucar, se você quer sair você vai me machucar"
"Por que você está falando isso? Apenas se acalme, certo? Vamos tentar
entender isso e-" E então eu vi. O David sentado lá estava usando as
mesmas roupas que eu, exceto por uma pequena mancha vermelha bordada em
sua camisa com um número 9"
"Você vai me machucar, você vai me machucar, não, por favor, você vai me machucar..."
Meus olhos não deixaram o pequeno número no seu peito. Eu sabia
exatamente o que era. As primeiras portas foram simples, mas depois elas
ficaram mais ambíguas. 7 foi arranhada na parede pelas minhas próprias
mãos. 8 foi marcada com o sangue dos meus pais. Mas 9 - esse número era
uma pessoa, uma pessoa viva. E o pior, era uma pessoa que parecia
exatamente comigo.
"David?" Eu tive que perguntar.
"Sim... você vai me machucar, você vai me machucar..." Ele continuo a soluçar e a se balançar. Ele respondeu ao David. Ele era eu, até a voz. Mas aquele 9. Eu andei por alguns minutos enquanto ele chorava em sua cadeira. O quarto não tinha nenhuma porta, e assim como o 6, a porta da qual eu vim tinha sumido. Por alguma razão, eu sabia que arranhar não me levaria a nenhum lugar dessa vez. Estudei as paredes e o chão em volta da cadeira, abaixando a minha cabeça e vendo se tinha algo embaixo dela. Infelizmente, tinha. Embaixo da cadeira tinha uma faca. Junto com ela tinha uma nota onde se lia: Para David - Da Gerência.
A sensação em meu estômago quando eu li a nota foi algo sinistro. Eu
queria vomitar, e a última coisa que eu queria fazer era remover a faca
debaixo da cadeira. O outro David continuava a soluçar
incontrolavelmente. Minha mente girava em volta de questões sem
respostas. Quem colocou isso aqui e como sabiam meu nome? Sem mencionar o
fato de que eu estava ajoelhado no chão frio e também estava sentado
naquela cadeira, soluçando e pedindo para não ser machucado por mim
mesmo. Isso tudo era muito para processar. A casa e a gerência estavam
brincando comigo esse tempo todo. Meus pensamentos, por alguma razão,
foram para Peter, e se ele chegou tão longe ou não. E se ele chegou, se
ele conheceu um Peter Terry soluçando nesta cadeira, se balançando para
frente e para trás. Eu expulsei esses pensamentos da minha cabeça, eles
não importavam. Eu peguei a faca debaixo da cadeira e imediatamente o
outro David se calou.
"David," ele disse na minha voz, "o que você pensa que vai fazer?"
Me levantei do chão e apertei a faca na minha mão.
"Eu vou sair daqui."
David continuava sentado na cadeira, mas estava bem calmo agora. Ele
olhou pra mim com um sorriso fraco. Eu não sabia se ele iria rir ou me
estrangular. Lentamente ele se levantou da cadeira e ficou de frente
para mim. Era estranho. Sua altura e até a maneira que ele estava eram
iguais a mim. Eu senti o cabo de borracha da faca na minha mão e apertei
ela mais forte. Eu não sabia o que planejava fazer com isso, mas sentia
que eu ia precisar dela.
"Agora" sua voz era um pouco mais profunda que a minha. "Eu vou te
machucar. Eu vou te machucar e eu vou te manter aqui" Eu não respondi.
Eu apenas o ataquei e o segurei no chão. Eu tinha montado nele e olhei
para baixo, faca apontada e preparada. Ele olhou para mim apavorado. Era
como se eu estivesse olhando para um espelho. E então, o zumbido
retornou, baixo e distante, mas ainda assim eu o sentia no meu corpo.
David olhou mim e eu olhei para mim mesmo. O zumbido foi ficando mais
alto, e eu senti algo dentro de mim se romper. Com apenas um movimento,
eu enfiei a faca na marca em seu peito e rasguei. A escuridão inundou o
quarto, e eu estava caindo.
A escuridão em volta de mim era diferente de tudo que eu já tinha
experimentado até aquele ponto. O Quarto 3 era escuro, mas não chegou
nem perto dessa que tinha me engolido completamente. Depois de um tempo,
eu não tinha nem mais certeza se continuava caindo. Me sentia leve,
coberto pela escuridão. E então, uma tristeza profunda veio até mim. Me
senti perdido, deprimido, suicida. A visão dos meus pais entrou na minha
mente. Eu sabia que não era real, mas eu tinha visto aquilo, e a mente
tem dificuldades em diferenciar o que é real e o que não é. A tristeza
só aumentava. Eu estava no quarto 9 pelo que parecia dias. O quarto
final. E era exatamente o que isso era, o fim. A Casa Sem Fim tinha um
final, e eu tinha alcançado isso.
Naquele momento, eu desisti. Eu sabia que eu estaria naquele estado pra
sempre, acompanhado por nada além da escuridão. Nem o zumbido estava lá
para me manter são. Eu tinha perdido todos os sentidos. Não conseguia
sentir eu mesmo. Não conseguia ouvir nada, a visão era inútil aqui, e eu
procurei por algum gosto na minha boca e não achei nada. Me senti
desencarnado e completamente perdido. Eu sabia onde eu estava. Isso era o
inferno. O Quarto 9 era o inferno. E então aconteceu. Uma luz. Uma
dessas luzes estereotipadas no fim do túnel. Então eu senti o chão vir
até mim, eu estava em pé. Depois de um momento ou dois para reunir meus
pensamentos e sentidos, eu andei lentamente em direção a essa luz.
Assim que eu me aproximei da luz, ela tomou forma. Era uma luz saindo da
fenda de uma porta, dessa vez sem nenhuma marca. Eu lentamente andei
através da porta e me encontrei de volta onde eu comecei, no lobby da
Casa Sem Fim. Estava exatamente como eu deixei. Continuava vazia,
continuava decorada com enfeites infantis de Halloween. Depois de tudo o
que aconteceu aquela noite, eu continuava desconfiado de onde eu
estava. Depois de alguns momentos de normalidade, eu olhei em volta
tentando achar qualquer coisa diferente. Na mesa estava um envelope
branco com o meu nome escrito nele. Muito curioso, mas ainda assim
cauteloso, juntei coragem para abrir o envelope. Dentro estava uma carta
escrita à mão.
David Williams,
Parabéns! Você chegou ao final da Casa Sem Fim! Por favor, aceite esse prêmio como um símbolo da sua grande conquista.
Da sua eterna,
Gerência
Junto com a carta, tinham cinco notas de 100 dólares.
Eu não conseguia parar de rir. Eu ri pelo que pareceram horas. Eu ri
enquanto andava até o carro e ri enquanto dirigia pra casa. Eu ri
enquanto estacionava o carro na minha garagem, ri enquanto abria a porta
da frente da minha casa e ri quando vi um pequeno 10 gravado na
madeira.
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