Carta de um Suicida


Oi. 
Eu nem sei por que estou escrevendo isso, se provavelmente vocês vão amassar e jogar fora assim como fizeram com meus sentimentos. Assim como fizeram com a minha alma. 
Mas mesmo assim, estou aqui deixando meu último suspiro, minha última gota de sangue que escorreu na alma. 
Minha última queda. 





Porque realmente, eu queria voltar a ser criança, ralar o joelho todos os dias e três dias depois, estarem cicatrizados. 
Hoje eu vejo que certas pessoas não nasceram exatamente para serem felizes, que certas pessoas simplesmente sentem a alma vazia. 
Mas algumas pessoas sentem a alma em chamas, sentem a alma morrendo. 
Vocês se lembram, de quando eu explicava meus problemas, e vocês diziam que tudo passa com o tempo, que tudo iria passar, era só esperar? 
Pois é, nunca passou... 
Eu poderia engolir a dor, engolir o choro e sorrir, como se tudo estivesse bem, se lembram de como eu sorria depois? 
Mas vocês nunca souberam o que realmente continuava por dentro. 
A mesma merda, a mesma coisa. 
Eu só não entendo o porquê de tudo isso. 
Mas vocês se lembram também, de quando eu ia pra escola, e era tratado como um lixo? 
As pessoas me julgavam somente porque eu era estranho? 
Julgavam-me como se eu fosse um animal daqueles piores. 
Eu nem tinha amigos com quem andar, me sentia perdido. 
Como uma peça no pacote errado de um quebra-cabeça certo. 
Como uma corda sobrando em um violão, como uma folha seca, junto de todas as outras folhas saudáveis de uma árvore. 
Eu só chegava à minha casa, e descontava tudo em mim. 
Trancava a porta do quarto e morria mais uma vez, depois de sorrir pro nada o dia todo. 
Vocês sabem o que é ser forte? 
Vocês sabiam o que eu sentia, pra me julgarem daquele jeito? 
Eu realmente me sentia um nada, minha família dizia que eu precisava de remédios, mas não... 
Não era isso, a mesma dor continuava, e de repente, numa manha, a mesma dor continuou e eu percebi que eram vinte e quatro horas. 
E aquilo estava se transformando em um vício, e eu gostava do que sentia. 
Eu comecei a gostar de ser triste. 
Vamos colocar um pouco de sentimentos aqui? 
Tentei reconstruir minha paz com pessoas medíocres, que me iludiram mesmo sem gostar de mim, me forçaram a amar só pra sofrer depois.
Meu coração era um objeto usado e idiota. 
Todos faziam dele o que queriam, sabe por quê? 
Porque palavras te doem mais do que um tapa, e era o que todos usavam contra mim, palavras e mais palavras. 
E eu comecei a me odiar por eu ser assim, tantos problemas, ninguém me entendia, não conhecia ninguém que pudesse me tirar desse fundo de poço. 
Ninguém.
E eu tenho morrido todos os dias esperando por perdões, por esperanças que nunca chegam pra me salvar. 
Eu me tornei uma pessoa fria e ruim. 
Não sabia o que era o bem. 
Eu estava perto do fundo do abismo escuro, o abismo de alegrias esquecidas, o abismo de ilusões deixadas pra trás, o abismo onde os sorrisos foram largados, o abismo onde a vida e uma alma feliz foram enterradas. 
O abismo onde eu queria chegar logo, pra recuperar tudo. 
A minha paz estava no fundo do abismo. 
Onde eu deixei tudo o que eu ainda tinha de bom. 
E eu estava perto. 
O fundo do abismo onde com palavras, todas as pessoas me fizeram deixar toda a minha felicidade, e seguir com a tristeza. 
Eu nem sei por onde começar. 
Não sei se vocês entendem os meus motivos para escolherem isso. 
Não sei se vocês sentem o mesmo que eu, mas com certeza não, pois tudo o que vocês fazem é julgar. 
Assassinos que não sabem o que fazem. 
Minha alma está morta, realmente minha alma morreu e minha carne não está agüentando mais, todo o peso, toda a dor que eu conhecia, minha alma estava segurando, estava morrendo. 
Estava sufocada, nem os cortes aliviavam mais. 
Então minha alma se foi, simplesmente não agüentou. 
Então eu estou aqui em carne, pra dizer estas últimas coisas. 
Nos últimos minutos que eu tenho, pois a carne é fraca, pra agüentar tudo o que minha alma suportava. 
“Eu só não estarei feliz, porque lá eu não poderei ver a cara de vocês que duvidaram de mim. 
Mas quando olharem o meu rosto, por favor. 
Não digam que eu era uma pessoa boa, apenas digam que eu era uma pessoa forte, que não agüentou esperar pra morrer no final.”
Assinado: Um suicida.

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