A Verdade


Ainda me lembro daquele dia.

Sinto como se fosse há muito tempo, embora não possa ter sido mais do que alguns meses. O dia em que pus os olhos pela primeira vez naquele maldito livro.

Havia uma tempestade naquela noite, uma muito forte. Eu estava sentado na sala de estar, saboreando uma xícara de café e assistindo a chuva cair lá fora enquanto um trovão rugia e o raio dividia o céu escuro. O fogo crepitava na lareira, espalhando seu calor pela sala. Subitamente ouvi uma batida na porta da frente, o que me fez pensar em quem poderia me procurar em uma hora dessas e com que propósito. Levantei lentamente da minha cadeira, andei para a porta da frente e a abri.

Um homem estava em pé do lado de fora. Não, homem não era a palavra certa para descrevê-lo, a coisa que estava em pé na minha frente. Ele tinha a forma de um homem, certamente, mas havia uma coisa… errada com ele. Algo inquietante. Ele tinha quase 2 metros, ou mais, vestido com uma longa túnica com capuz que cobria todo o seu rosto e projetava uma sombra que obscurecia todo o resto do seu corpo.

– Quem é você? Perguntei nervoso – O que quer de mim?
Das dobras de sua túnica, ele retirou um pequeno livro, encadernado em couro preto com um tipo de escrita estranha na capa. Ele disse:

–Pegue isso e descubra a verdade.

Ele assim disse pouco antes de se virar e sair andando calmamente. Fechei a porta, trêmulo. Eu não sabia por que, mas o homem estranho me deixou nervoso. Baixando os olhos para o livro, me encontrei com um desejo inexplicável de lê-lo, então o levei para o meu escritório e o pus na escrivaninha.
Sob uma boa inspeção, o livro parecia extremamente velho e usado, como se fosse se desmanchar a qualquer momento. A escrita era claramente algum tipo de linguagem antiga, não era como nada que eu já tivesse visto. Gastei toda a minha vida estudando esse tipo de coisa, mas a escrita era completamente inédita para mim, quase como se fosse de outro mundo.

A coisa realmente estranha nesse livro era como ele me fazia sentir. Apenas olhar para ele induzia um grande desejo de lê-lo, e ao mesmo tempo uma vontade de fugir, de se afastar dele o máximo que eu pudesse. Parecia sobrenatural, como se houvesse algo extremamente perturbador com sua presença, e também bastante intrigante. Como um estudante, me senti com o dever de desvendar os mistérios desse livro, então levei um momento para me recompor antes de sentar e abri-lo.
Logo na primeira página percebia-se a mesma escrita da capa… Mas enquanto eu olhava, a coisa mais extraordinária aconteceu: o estranho dialeto se rearranjou para o meu idioma, bem em frente aos meus olhos! Mostrava o título do livro, que simplesmente era “A Verdade”. Perdi todo o meu controle eu tinha que saber o que estava escrito no livro! Virei a página, e até hoje ainda me arrependo da minha decisão.

No momento em que pus os olhos na segunda página, sabia que algo estava errado. Ouvi sussurros estranhos, incompreensíveis, que pareciam ser emanados das várias páginas do livro, e senti um grande arrepio quando ouvi as vozes. Encontrei-me incapaz de virar os olhos, incapaz de parar de ler. Por horas eu li contra minha vontade, o livro que descrevia coisas terríveis em detalhes tão vívidos que me deixavam psicologicamente perturbado. Falava de monstros antigos, dos horrores e seres além dos mais terríveis pesadelos, de aberrações da natureza extremamente terríveis para se falar. A cada palavra lida, os sussurros aumentavam, e no fim tinham se tornado um conjunto de gritos ensurdecedores em uma linguagem que eu não poderia compreender.

Finalmente cheguei ao capítulo final, e as vozes silenciaram-se de repente. Eu ainda não poderia parar de ler. Esse capítulo final provava ser o pior, descritos para mim nos piores detalhes, o destino daqueles que liam o livro, e do demônio antigo que guardava suas páginas. Eu mesmo não desejo contar tais horrores. Isso iria apenas mexer com a sua sanidade e adiantar a minha inevitável morte, como se ela já não tivesse tão perto. Basta dizer que sou atormentado todas as noites pelos piores pesadelos que uma mente mortal pode produzir. Posso estar seguro agora, mas em minha morte o guardião do livro irá clamar por minha alma como sua propriedade por todo o sempre.
Claro que, o livro proporcionou um resultado positivo: Agora eu sei a verdade. Eu entendo a natureza da existência, as leis que governam a realidade. Com esse novo conhecimento, descobri uma maneira de salvar a minha alma.

Vocês devem estar se perguntando por que estou postando isso na internet ao invés de estar entregando o livro para alguém esperando que leiam. Realmente simples. Eu já sei que isso vai funcionar. Eu sei que alguém, em algum lugar, vai ler isso e desejar a verdade para si. Eu sei que essa pessoa vai me procurar, e vai aceitar alegremente o livro. Eu também sei o destino dessa pessoa, mas não vou revelar para vocês. Afinal de contas, você vai descobrir sozinho em breve.
Estarei esperando.

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