O Poeta Apaixonado


Havia um poeta, muito belo e formoso, famoso pelos seus lindos versos de amor. Vários rapazes iam até ele encomendar-lhe versos para suas amadas, e ele os fazia de bom grado. Muitas moçoilas sonhavam em um dia conquistar o coração do nobre poeta e muitas senhoras se perguntavam quem seria a fonte de inspiração para tanto amor…
Apesar da fama de apaixonado, os versos eram vazios, pois o poeta não tinha nenhuma musa inspiradora. Vivia sozinho e calado em sua casa, fazendo versos para os outros e para si mesmo. Sonhava com o dia em que encontraria uma bela dama, e então seus versos fariam sentido em sua vida vazia.

Um dia, após um baile da cidade, sem tirar nenhuma das moças para dançar, voltou para casa cabisbaixo. Por mais que tentasse ainda não havia encontrado uma dama para chamar de sua. Em casa, em sua sacada, observava o jardim escuro imaginando como seria o dia ao amanhecer, em que ele faria tudo conforme a sua rotina.

Porém um brilho lhe chamou a atenção. Era uma luz branca que tomava todo o jardim e o iluminava como se fosse dia. Ao olhar para cima, viu uma bela lua cheia que mesmo por entre as nuvens, tinha um brilho forte. Depois de uma leve brisa, as nuvens lhe deixaram e sua beleza ficou completa. O poeta maravilhado, começou a admirá-la, e se apaixonou perdidamente.

Durante vários dias, seus versos falavam do brilho e de brancura, de brisa e leveza, de se encontrar na escuridão. Mais seus versos ficavam belos, e mais as pessoas se perguntavam sobre a musa do artista. Enfim ele tinha achado uma musa. Uma que todos podiam ver, mas que ninguém poderia tocar, nem mesmo ele. Isso o deixava triste, mas na sacada, durante as noites de lua, gostava de imaginar que a brisa era o toque de sua amada em sua pele.

Mais uma noite de admiração, porém algo havia acontecido. Não havia lua no céu. O poeta mais que rapidamente correu a um calendário e ficou surpreso. Não era noite de lua nova, o que faria a lua sumir? Não havia nuvens no céu, onde estaria sua amada? Sentou-se em sua cama, triste e preocupado. Porém um som começou a lhe perturbar e ele foi ver o que era.

Um canto, doce e suave, uma voz macia e serena…. Uma canção... A sua canção! Uma das várias canções que ele havia feito para sua amada. Ao chegar na sacada ele teve uma das visões mais lindas. Uma mulher, com a pele alva e os cabelos negros como a noite vazia. Seus movimentos eram suaves e o seu leve vestido parecia feito de luz. Ao ver a bela dama ficou encantado, mas logo quis saber quem era.

- Sou a lua. A sua lua, meu amor…

- Minha lua?

- Sim. Vi e ouvi seus versos. Ouvi suas belas canções. Ninguém nunca havia escrito coisas tão lindas sobre mim e para mim. Me apaixonei por você.

- Mas… Por mim? Sou um simples poeta…

- Simples, mas jurou amor por mim. Hoje me fiz mulher para ser sua. Para consumar nosso amor. Hoje eu sou apenas tua, e você será apenas meu.

O poeta estava confuso. Como poderia a própria lua se fazer mulher? Como poderia a lua lhe visitar? Mesmo com receio o poeta se aproximou da bela donzela para um beijo. Ao tocar seus lábios sentiu um arrepio inexplicável e percebeu o quanto seus lábios eram frios. Ao tocar sua pele, percebeu que ela era toda fria, assim como a brisa que lhe tocava durante a madrugada.

Logo o momento lhe envolveu e o perfume das damas da noite lhe inebriaram. Mais que mágico poderia ser descrito a paixão que envolvia o casal. Porém, ainda lhe faltava uma coisa. Apesar do calor da paixão, o corpo da bela dama permanecia frio; nada do que fizesse era capaz de esquentá-la.

- Por que tão fria?

- Por que eu sou a lua meu amor. Não sou humana.

- Nunca irei sentir o seu calor?

- Não existe calor em mim… Mas existe amor! Meu amor por você e o seu amor por mim…

O poeta a beijou mais uma vez. Levantou-se e voltou para a sacada. Olhava a noite vazia, apenas com as estrelas. Sentia a brisa fria lhe arrepiar o corpo e percebeu que apesar de todo amor, ainda lhe faltava algo.

- Meu amor, quantas vezes você poderá vir me ver?

- Não sei dizer ao certo. Mas posso lhe visitar de novo, daqui a cinco fases “cheia”. É quando terei reunido brilho suficiente para vir até você.

- Eu não sei se quero que você venha de novo.

- Por que não meu amor? – Ela estava surpresa com tais palavras.

- Por que eu não quero mais você.

- Meu amor, não diga isso. O que eu fiz de errado?

- Você não é mulher. Jamais vou poder apresentá-la para sociedade. Jamais teremos um filho. Jamais poderei lhe dar calor. Jamais sentirei o seu calor. Eu te amo sim, mas apenas o amor não basta. Você é fria, e eu não posso fazer nada para mudar isto.

- Se meu amor não basta, se nunca irei lhe dar o que deseja, jamais me verá novamente! - disse a dama chorando.

Então, num brilho forte, a bela dama sumiu. As damas da noite perderam o seu perfume. A brisa parou de lhe tocar. O poeta olhou para o céu e a lua não estava lá. Durante a manhã, tudo estava normal. O poeta seguia a sua rotina, e seus versos ficaram ligeiramente mais tristes, apesar de não perder a beleza. Mas ao anoitecer, algo estava diferente. Ao olhar pela janela, a lua não estava lá. Apesar da brisa balançar as folhas, ele não sentia o seu frescor. Saiu para caminhar na rua, e viu alguns casais passeando.

A brisa balançava suas roupas, porém ela não parecia tocar no poeta. Eles olhavam para o céu admirados, e o poeta ao olhar, não conseguia ver mais do que um céu escuro tomado por estrelas. Um amigo ainda lhe parou e disse: A lua não está linda esta noite? Ele olhou novamente para o céu e respondeu: Lindíssima! Mentiu, pois não poderia dizer se estava, pois não conseguia mais ver.

O poeta passou o resto dos seus dias sem ver a lua, sozinho, fazendo versos sobre um amor que ele jamais pôde aproveitar, e que ele jamais poderia tocar novamente, por puro egoísmo, em busca de um calor fútil...

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